domingo, 7 de novembro de 2010

O PIBID/PEDAGOGIA NAS TURMAS DOS 5º ANOS

Patrícia Miranda1

Belanir Ramos2

Danieli Formentim3

Milene da Silva Gautério4

Débora Sotter do Amaral5

Linhas de Trabalho Suzane da Rocha Vieira6

A) Experiências curriculares:

Grupos de trabalho:

Ensino - aprendizagem

B) Formação docente:

Grupos de trabalho:

Formação continuada - vivências de autoformação - reflexão sobre a própria prática.

1-CONTEXTO DO RELATO

Este relato reflexivo é sobre o trabalho realizado pelo PIBID/Pedagogia, junto às turmas dos 5º anos da Escola Municipal Cidade do Rio Grande, que integra o Centro Integrado de Apoio à Criança – CAIC, onde é desenvolvido o projeto.

Quando foi iniciado o PIBID/Pedagogia no CAIC, as turmas do 5º ano eram as que mais nos desafiavam, por agruparem os “maiores” do turno da tarde, crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos de idade e pela organização pedagógica por área, com horários estabelecidos para cada uma delas e com a atuação de três professoras por turma. A opção da instituição em organizar os 5º anos por área é algo novo na escola e está em fase de experimentação, tem como um dos objetivos reduzir o impacto causado pela transição para as séries finais do Ensino Fundamental, em que cada matéria possui um professor. Como a escola optou por não trabalhar com uma professora por turma, e organizou o currículo em 3 áreas ficando uma professora responsável por cada área, foi proposto que apenas 1 bolsista PIBID acompanharia todas as 3 turmas do 5º ano, e que desenvolvesse atividades nas três turmas. Com apoio da coordenadora dos anos iniciais da escola, ficou definida grade de horário uma hora aula para que esta licencianda pudesse desenvolver um projeto com cada turma.

2- DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES

O projeto que está sendo realizado foi denominado “Desenvolvendo as Relações Humanas” e foi elaborado em conjunto com a coordenação pedagógica do CAIC e as professoras dos 5º anos. O tema foi escolhido a partir do relato das professoras que indicaram a necessidade de trabalhar aspectos como respeito, amizade, solidariedade, cooperação, entre outros, devido ao comportamento um tanto agressivo e desrespeitoso entre os próprios estudantes, e estes com os professores.

Por isso, está sendo importante propiciar no espaço educativo atividades que promovam relações humanas mais solidárias, uma vez que possibilitam aos educandos em seu processo formativo, conhecer-se, informar-se e desenvolver-se nas relações sociais.

O período em que a licencianda fica com a turma é caracterizado para o grupo como a aula de Relações Humanas, uma vez por semana a acadêmica desenvolve o trabalho com cada turma e procura utilizar metodologias alternativas como uso de vídeos, rodas de conversa, laboratório de informática, aulas na biblioteca, saídas de campo, entre outras para despertar o interesse das crianças e adolescentes para discutir as temáticas propostas.

Como a presença da acadêmica do PIBID na escola era algo novo, sentiu-se a necessidade de estabelecer uma relação de reciprocidade e confiança entre ela e as crianças e adolescentes das turmas do 5º ano, foi a partir disso, que se propôs a escrita de diários, individuais, nos quais cada um poderia registrar livremente assuntos de seu interesse e relacionados às suas histórias de vida. A idéia dos diários partiu da própria acadêmica que se baseou na história contada no filme “Escritores da Liberdade[1]”.

Segundo Souza, “o uso do diário reflexivo de leituras em situação escolar aponta pistas sobre um trabalho interpessoal, ou seja, acontecem novas situações de interação no ambiente escolar, provocando a instauração de novas/outras relações entre os interlocutores (2007, p.4). Com essa intenção, de promover um trabalho interpessoal e problematizar com os estudantes questões relacionadas às Relações Humanas que foi proposto a escrita dos diários.

No início do desenvolvimento do projeto de Relações Humanas, principalmente quando se propôs a escrita dos diários houve certo receio por parte de alguns alunos, o que consideramos aceitável e tratamos com normalidade. Porém, no decorrer das semanas, a cada encontro realizado com a acadêmica do PIBID a participação nas atividades propostas foi aumentando e alunos que diziam não escreveriam nos Diários, começaram a escrever e até entregar seus diários para que a licencianda lesse. Esse momento foi muito importante para todos envolvidos com o PIBID nos 5º anos, pois percebemos que o projeto estava dando certo e que as turmas estavam acolhendo a proposta.

3-ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO

Acreditamos que possibilitar a escrita livre aos alunos foi um passo importante para o sucesso do projeto e para conquistar a confiança deles. Os registros nos diários só podem ser lidos com a autorização do escritor e o diário deve ser entregue por ele mesmo. Com o desenvolvimento do projeto os alunos passaram a pedir para outros professores lerem seus diários.

O trabalho com os diários têm potencializado a relação entre professores e alunos, pois os registros ali encontrados trazem desabafos, medos, angústias, alegrias, histórias de vida marcadas muitas vezes pelo abandono e/ou pela violência. Assim, é necessário ser sensível à condição humana vivida pelos alunos, uma vez que “a empreitada de tornar o ser humano mais humano nunca foi tarefa fácil”. (ARROYO, 2004, p.48)

Nessa direção, temos observado que os fatos narrados têm sensibilizado os professores e a licencianda que passam a enxergar cada menino e menina a partir da sua trajetória e perceber que muitas vezes seu comportamento arredio pode ser encarado com defesa ou mesmo fruto de um contexto social e familiar. Além disso, os alunos se sentem ouvidos, respeitados, percebem que a escola se preocupa com eles.

A partir da leitura de autores que defendem a importância de uma escuta sensível, entendemos que no Projeto “Desenvolvendo as Relações Humanas”, estamos não só ouvindo, mas também realizando uma leitura sensível, na busca de compreender e respeitar o outro. Para Barbier (1998), a escuta sensível está articulada com a capacidade dos professores compreenderem seus alunos por “empatia” e não se fixarem em interpretações de fatos. Ao estar aberto para conhecer, sentir, ouvir e ler o outro, acreditamos que se torna possível entender suas atitudes, comportamentos, idéias, valores, em um exercício de alteridade.

Nesse período em que o projeto está sendo desenvolvido, percebemos o quanto os alunos estão engajados na escrita dos diários e como esse processo tem fomentado novas relações no cotidiano escolar, a partir de uma convivência mais tolerante, respeitosa e amigável.

4-CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa experiência tem propiciado às professoras e a futura professora a refletirem sobre o cotidiano educativo e a importância do desenvolvimento de práticas pedagógicas que vão ao encontro dos interesses dos alunos. Ao mesmo tempo, o grupo tem se questionado a respeito do papel da escola, entendendo que esta precisa ser promotora de valores essenciais para a formação humana, indo além do processo ensino-aprendizagem dos conteúdos conceituais.

Nesse sentido concordamos com Moreira e Almeida que

O papel social da escola é muito importante, pois se delegou aos educadores o trabalho de formar o aluno para a vida, o que leva a refletir sobre a imensa responsabilidade dessa tarefa. Não se pode simplesmente garantir igualdade nas oportunidades, mas sim, efetivamente, garantir a igualdade de condições, para que não se reproduza a exclusão dentro da escola (s/a, p.5)

Desse modo, entendemos que o PIBID/Pedagogia possui um importante papel no processo de formação inicial e continuada de professores por meio da problematização de vivências cotidianas em sala de aula e de seus significados teórico-prático, já que se propõe a auxiliar na formação de alicerces para uma ação docente sempre (re)construtora e reflexiva e contribuindo, assim, para o inacabado processo de constituir-se professor.

5-REFERÊNCIAS

ARROYO, M. Imagens Quebradas – Trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2004

BARBIER, R. A escuta sensível na abordagem transversal. São Carlos: UFSCar, 1998.

MOREIRA, M.H.Z. e ALMEIDA, J.A.M. .Educação Complementar: Contribuições Para A Formação Humana No Espaço Escolar. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/864-4.pdf Acesso em 30 de agosto de 2010.

SOUZA, R. F. M. O Diário Reflexivo de Leituras: Dialogismo e Interação. In: Anais do 16º Congresso de Leitura do Brasil. Campinas, 2007. Disponível em: http://www.alb.com.br/anais16/sem11pdf/sm11ss14_02.pdf Acesso em 30 de agosto de 2010.



[1] Filme de Richard Lagravenese, lançado em 2007, que aborda o desafio da educação em um contexto social problemático e violento. Ao perceber os grandes problemas enfrentados pelos estudantes, a professora Erin resolve adotar novos métodos de ensino e propõe a escrita de diários.

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